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A arte do risco: lições do xadrez para o mundo dos investimentos

Três mestres para um tabuleiro

Podemos encontrar semelhanças entre um grande jogador de xadrez e um investidor de sucesso? Claro que sim. Ambos exigem uma combinação de estratégia, análise e disposição para assumir riscos, e o sucesso não é garantido em nenhum deles. Neste episódio do podcast “Behind the Memo”, Howard Marks e Bruce Karsh, cofundadores da Oaktree Capital Management, são acompanhados pelo Grande Mestre de Xadrez Maurice Ashley.

Howard Marks e Bruce Karsh são figuras centrais da Oaktree Capital Management, uma das maiores gestoras de crédito do mundo.

Marks é uma autoridade no setor financeiro, seus memorandos e livros são fontes de sabedoria para muitos, incluindo figuras como Warren Buffett, que acompanha de perto suas publicações. Karsh começou sua carreira no campo jurídico e, posteriormente, se aventurou no setor financeiro, passando por empresas como O’Melveny & Myers, Sun Life Insurance Company, e TCW Group, até cofundar a Oaktree Capital Management em 1995.

Maurice Ashley, nascido em St. Andrews, Jamaica, é um Grande Mestre de xadrez e uma figura inspiradora no mundo dos esportes mentais. Em 1999, ele fez história ao se tornar o primeiro afro-americano a obter o título de Grande Mestre Internacional.

No cenário dinâmico dos investimentos, a sabedoria convencional muitas vezes é desafiada por insights inesperados. Um exemplo recente é o memorando de Howard Marks, co-fundador da Oaktree Capital Management, intitulado “A Indispensabilidade do Risco”, que explora as conexões entre o xadrez e o investimento.

O memorando foi inspirado por um artigo do grande mestre de xadrez Maurice Ashley, publicado no Wall Street Journal, intitulado “O Xadrez Ensina o Poder do Sacrifício”. Nesta edição do podcast “Behind the Memo”, que aqui resumimos, Marks se reúne com Ashley e Bruce Karsh, CIO da Oaktree, para uma discussão profunda sobre risco, sacrifício e as lições que ambos os mundos podem aprender um com o outro.

No xadrez, o sacrifício é uma estratégia onde um jogador cede uma peça de valor em troca de uma vantagem posicional ou estratégica. Maurice Ashley explica que, “no xadrez, o sacrifício é feito porque acreditamos que obteremos algo em troca. Às vezes, é um ganho concreto; outras vezes, é uma posição vantajosa.” Este conceito é paralelamente aplicado no mundo dos investimentos, onde assumir riscos calculados pode levar a retornos significativos.

Howard Marks ressalta a importância dessa analogia, observando que “o risco é uma parte indispensável do investimento. Tomamos decisões arriscadas porque acreditamos que vão compensar, mesmo sem garantias.” Este respeitado investidor, cuja opinião foi solicitada pelo governo dos Estados Unidos durante a crise de 2008, destaca que, assim como no xadrez, os investidores devem estar confortáveis com a incerteza e prontos para enfrentar perdas potenciais em busca de ganhos futuros.

Maurice Ashley compartilha a perspectiva de Magnus Carlsen, ex-campeão mundial de xadrez, ao afirmar que “é arriscado não assumir riscos suficientes.” No xadrez, jogar muito seguro pode ser uma receita para a derrota, especialmente contra adversários habilidosos. Da mesma forma, no mundo dos investimentos, não assumir riscos suficientes pode significar perder oportunidades valiosas.

Bruce Karsh comenta que “investir em uma empresa amplamente conhecida e amada pode parecer seguro, mas as maiores recompensas vêm de investir em ativos complexos e largamente evitados.” Karsh enfatiza que identificar e aproveitar essas oportunidades requer coragem e uma mentalidade contrária à maioria. O que nem sempre é fácil.

A Necessidade de Assumir Riscos

Uma das ideias centrais discutidas no podcast é a separação entre a qualidade da decisão e o resultado final. Ashley argumenta que “muitas pessoas são orientadas pelo resultado, mas o mundo nos ensina que não podemos controlar todos os resultados. Podemos apenas controlar nossos esforços e análises.” Marks complementa essa ideia, afirmando que “boas decisões nem sempre levam a bons resultados devido à aleatoriedade envolvida. O importante é tomar decisões bem fundamentadas e estar preparado para aceitar as perdas.”

Essa mentalidade é crucial tanto no xadrez quanto nos investimentos. No xadrez, um movimento bem planejado pode ser neutralizado por uma jogada inesperada do oponente. Nos investimentos, fatores externos e imprevisíveis podem afetar o desempenho de um ativo. Reconhecer e aceitar essa incerteza é parte integrante do sucesso em ambos os campos.

A discussão também aborda as lições mais amplas que o xadrez pode ensinar sobre vida e investimentos. Bruce Karsh menciona que “o xadrez ensina paciência, foco e a necessidade de pensar várias jogadas à frente.” Esses atributos são igualmente valiosos no mundo dos investimentos, onde decisões cuidadosas e bem pensadas são essenciais para o sucesso a longo prazo.

Maurice Ashley destaca a importância da consciência situacional. “No xadrez, você precisa estar extremamente presente e tomar decisões com base no que está acontecendo agora. Isso se aplica igualmente aos investimentos, onde é crucial estar atento ao ambiente atual do mercado e ajustar suas estratégias conforme necessário.”

Ao final da discussão, Maurice Ashley reflete sobre a filosofia do sucesso e do risco. Ele afirma que “o sucesso não é sobre chegar a um destino, mas sim sobre a jornada que dá valor a esse destino.” Ashley enfatiza que as dificuldades e desafios enfrentados ao longo do caminho são o que realmente moldam nosso caráter e habilidades.

Howard Marks concorda, observando que “em ambos os campos, enfrentamos desafios, dependemos de nossas características pessoais e intelectuais, e é o processo que é extremamente valioso. Claro, é melhor quando os retornos são altos, mas o aprendizado e o crescimento ao longo do caminho são inestimáveis.”

A coragem de tomar decisões difíceis, mesmo sem garantias de sucesso, é um tema recorrente na conversa. Marks relembra a decisão de Bruce Karsh de investir pesadamente após a falência do Lehman Brothers em 2008. “Essa decisão não era garantida de funcionar. Ninguém poderia provar que o sistema financeiro não iria colapsar, mas você fez o que achou certo,” diz Marks. Karsh complementa, “saber que provavelmente os preços iriam cair ainda mais, mas ter a convicção de que estávamos fazendo excelentes compras, é um exemplo claro de sacrifício e risco calculado.”

A Filosofia do Sucesso e do Risco

Maurice Ashley destaca que os grandes jogadores de xadrez, assim como os grandes investidores, são aqueles que conseguem lidar com a incerteza e aceitar a possibilidade de falhar. “Você tem que estar confortável com perder, porque… você vai perder. Isso faz parte de qualquer grande história de sucesso,” afirma Ashley. Ele enfatiza que a habilidade de enfrentar e aprender com as perdas é crucial para o crescimento e eventual sucesso.

Marks complementa essa visão com uma citação de Dave Swensen, gestor do endowment da Yale, que disse que “a gestão de investimentos bem-sucedida requer a adoção de posições idiossincráticas desconfortáveis.” Marks explica que se afastar do consenso e correr riscos calculados é essencial para obter retornos superiores.

A conversa entre Howard Marks, Maurice Ashley e Bruce Karsh oferece uma visão rica e multifacetada sobre a interseção entre xadrez e investimentos. As lições compartilhadas destacam a importância de assumir riscos calculados, separar a qualidade da decisão dos resultados, e valorizar a jornada tanto quanto o destino final. Como Marks coloca, “estar disposto a correr riscos e aprender com as perdas é essencial para alcançar o sucesso em qualquer campo.” Essa filosofia, fundamentada em uma combinação de intuição, análise e coragem, é a chave para navegar tanto no tabuleiro de xadrez quanto no mercado financeiro.

O podcast “Behind the Memo” não só ilumina a complexidade e a beleza do xadrez, mas também nos lembra que o mundo dos investimentos é igualmente um jogo de paciência, estratégia e, acima de tudo, coragem. Assim, seja no tabuleiro ou no mercado, a verdadeira arte está em abraçar o risco e aprender com cada movimento, vitorioso ou não.

Ouça aqui: https://www.oaktreecapital.com/insights/memo-podcast/behind-the-memo—the-indispensability-of-risk