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Alocação de Capital: a estratégia das empresas vencedoras

A alocação de capital é fundamental para transformar a estratégia empresarial em ação, e sua importância tem crescido, especialmente em meio às transformações digitais e de sustentabilidade. Porém, muitas empresas estão optando por distribuir dividendos ou recomprar ações em vez de reinvestir. Como as empresas de sucesso se destacam nesse cenário?

Pontos-chave (Key Insights):

  • Investimentos estratégicos: Empresas vencedoras alinham sua alocação de capital com prioridades estratégicas e focam em projetos com maior potencial de crescimento.
  • Governança robusta: A governança eficaz, com monitoramento e comitês independentes, ajuda a mitigar riscos e tomar decisões de investimento fundamentadas.
  • Aprendizado contínuo: Revisar decisões anteriores por meio de auditorias pós-investimento permite ajustar a estratégia e melhorar a alocação de capital no futuro.


Investir com estratégia

Alocar recursos financeiros de forma a maximizar o valor da empresa, no longo prazo, exige uma estratégia bem formulada e uma avaliação constante das oportunidades de investimento. A alocação de capital tem impacto na competitividade e no crescimento dos negócios, e depende de fatores que nem sempre podem ser controlados internamente.

Uma equipe do Boston Consulting Group (BCG) com muita experiência em consultoria estratégica e alocação de capital analisou o comportamento de dez mil empresas da sua base de dados e concluiu que na última década, o nível de investimentos em relação à receita caiu cerca de 10%.

Sebastian Stange (sócio e diretor de estratégia corporativa), Ulrich Pidun (sócio e diretor), Alexander Roos (diretor administrativo e sócio sênior) e Martin Link (especialista em conhecimento e gerente de equipe), todos dos escritórios do BCG na Alemanha, sustentam que a incerteza levou a este comportamento defensivo. Apesar do corte nos investimentos, houve um aumento em mais de um terço dos pagamentos aos acionistas, assim como do nível de caixa em relação a receita. Mas será que todas as empresas fizeram o mesmo?

A resposta é negativa. A análise feita pelo BCG sobre o desempenho histórico de alocação de capital evidenciou que as empresas out-performers (aquelas que se encontram “no terço superior da valorização do mercado de ações em relação aos seus pares”) investiram cerca de 50% mais em bens de capital que os seus concorrentes. E, assim, como mostra a figura seguinte, “alcançaram aproximadamente 55% mais retorno sobre ativos e cerca de 65% mais crescimento nas vendas”.

O que parece separar empresas de alto desempenho de seus concorrentes é justamente a capacidade de realizar investimentos estratégicos de maneira consistente. Resultados tão expressivos parecem ser sustentados por três pilares fundamentais: orçamento estratégico de capital, seleção criteriosa de projetos de investimento e uma governança robusta.


Orçamento Estratégico de Capital

As empresas que utilizam seu capital de forma mais disciplinada se destacam em três aspectos fundamentais, constatam os autores: investem em negócios, e não apenas em projetos, traduzem os portfólios em diretrizes de alocação de capital, e buscam investimentos equilibrados, no seu conjunto. Numa expressão feliz e muito clara, o artigo sublinha que a alocação de capital “envolve olhar tanto para a floresta quanto para as árvores, e os out-performers começam observando a floresta primeiro”.

Dois bons exemplos servem para ilustrar o primeiro ponto: A IBM reorientou seu portfólio do hardware para serviços baseados em nuvem, e a Tata Consultancy Services vendeu suas operações de call center para focar em serviços de maior valor agregado.

A definição de papéis claros para cada unidade de negócio, com diretrizes de investimento baseadas em seu ciclo de vida, é a segunda boa medida. Um exemplo apontado no estudo é o de uma grande empresa na área da energia, que “classifica suas unidades de negócio como negócios de desenvolvimento, crescimento, âncoras ou maduros, dependendo de sua posição no ciclo de vida do mercado. Cada papel no portfólio tem seus próprios requisitos de desempenho, e os negócios são geridos com base em conjuntos específicos de indicadores financeiros”.

Finalmente, o equilíbrio do portfólio de investimentos é o terceiro ponto: as empresas devem garantir que o portfólio de investimentos esteja alinhado com as prioridades estratégicas. Um exemplo de erro comum é favorecer investimentos de curto prazo, negligenciando os de maior risco e prazo mais longo, que são essenciais para o crescimento futuro.

Aqui, é citado o caso de uma empresa de dispositivos médicos que percebeu que estava investindo excessivamente em produtos comuns e insuficientemente em dispositivos inovadores. Essa empresa caiu “em uma armadilha típica, favorecendo investimentos com curtos prazos de retorno por serem financeiramente atraentes e de baixo risco percebido, ofuscando investimentos de maior risco e com prazos de retorno mais longos — os investimentos necessários para gerar crescimento futuro”, comentam Stange, Pidun, Roos e Link.

Seleção de Projetos de Investimento

A seleção de projetos de investimento exige mais do que apenas avaliar o retorno financeiro esperado. Empresas que se destacam asseguram que compreendem o perfil financeiro completo dos projetos, incluindo a qualidade das estimativas e a variabilidade dos fluxos de caixa e o perfil de retorno. Embora a taxa interna de retorno (TIR) seja um critério importante, ela não deve ser o único fator, diz o time do BCG.

A seleção de projetos de investimento exige uma escolha e análise minuciosa dos critérios de avaliação relevantes, que muitas vezes não dizem respeito ao retorno financeiro. Os autores apontam o exemplo de uma grande empresa do setor da mineração como uma boa prática: “A empresa aplica critérios de avaliação relevantes, mas diferentes, para cada tipo de investimento. Investimentos em melhorias de eficiência, como atualizações de equipamentos, são avaliados com base no impacto financeiro direto. Extensões de capacidade, por outro lado, são avaliadas no contexto de suposições de mercado, como a capacidade dos concorrentes e as perspectivas de preços de commodities”.

No caso apontado, os investimentos de longo prazo são avaliados com base na “atratividade estratégica”, e os retornos financeiros não fazem sequer parte da análise. Esse processo “garante que a empresa escolha os melhores projetos dentro de cada tipo de investimento, sem discriminar especificidades”, sustentam.

Assumir os riscos subjacentes é essencial para evitar surpresas negativas. Esse processo ajuda a garantir que os recursos sejam alocados com base em uma verdadeira compreensão dos riscos e das oportunidades, evitando a dependência de modelos complexos e assegurando que os riscos sejam gerenciáveis antes de comprometer fundos. “Em nossa experiência” – diz esta análise – “é mais importante expor os riscos relevantes do que quantificar seu impacto exato”.

 

Governança dos Investimentos

Uma governança eficaz envolve escolher, apoiar e monitorar grandes projetos, abordando vieses cognitivos, estabelecendo responsabilidade e promovendo ciclos de feedback.

Decisões de alocação de capital são propensas a vieses, como focar em informações limitadas, resistir a novos dados e cair no que se conhece como pensamento de grupo. “Para evitar esses vieses, recomenda-se estabelecer comitês centrais de investimento, reuniões periódicas para decisões e fomentar uma cultura de ‘discordância construtiva’, atribuindo papéis de proponentes e céticos”, defende o BCG.

Estabeleça critérios de responsabilidade, especialmente em grandes investimentos, cujos resultados podem demorar a aparecer. Atrelar metas e incentivos ao sucesso de longo prazo dos projetos, como compensações vinculadas ao desempenho contínuo, evita riscos morais. Refere-se neste artigo, o caso de uma empresa global do setor químico, que “estabeleceu um sistema de avaliação de gestores e um fundo de bônus de longo prazo que atribui grande parte da responsabilidade pelo sucesso (e recompensas) ao iniciador de uma proposta de investimento. Fatores externos não são aceitos como desculpas para o fracasso”.

Ciclos de feedback também são essenciais. Empresas avançadas não apenas auditam grandes projetos, mas revisam decisões passadas para identificar erros, inclusive o custo de oportunidades perdidas. Essa prática, adotada por empresas como a Bridgewater, envolve uma análise de causa raiz para aprimorar as decisões futuras e desenvolver as habilidades dos envolvidos. Esse processo contínuo de aprendizado ajuda a melhorar a alocação de capital e o desempenho geral da empresa.

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