Em dezembro de 2020, a Harvard Business Review, publicou um artigo bastante interessante que mostrava na época como a Apple era organizada internamente com objetivo de incentivar a inovação em todos os níveis da companhia. O artigo fora escrito pelos professores Poldony e Hansen.
A proposta central do artigo mostra como a Apple auferiu grande crescimento após a volta de seu fundador, Steve Jobs. Com uma reestruturação profunda na organização da companhia, Jobs eliminou gerentes regionais, optando por uma estrutura funcional e fortemente verticalizada.
Em pouco tempo, a Apple, com seu tamanho, desafiou estudos que sugerem uma estrutura multidivisional, que pressupõe uma ampla independência de diferentes gestores no processo decisivo da companhia, em contraponto ao que adotou Jobs e a Apple.
No entanto, tal escolha não significa que a empresa ficou estática e parada no tempo, como se nota a seguir.
A opção por uma organização funcional
A Apple, destacada como empresa disruptiva no setor tecnológico, protagonizou revoluções históricas, notadamente com a câmera do iPhone, superior aos concorrentes e prevalente na indústria fotográfica móvel.
Essa proeminência deriva, em parte, da decisão estratégica de minimizar pressões por lucros imediatos, permitindo a formação de equipes altamente especializadas e conferindo-lhes autonomia decisória, contrastando com a abordagem convencional de gestão.
Em discussões sobre produtos, o setor financeiro não participa, evidenciando o compromisso da Apple com a expertise como catalisador de produção e guia de desenvolvimento, sem abrir mão de responsabilidade e controle.
Por dentro da liderança
São quatro grande pilares que sustentam o protocolo operacional, tático e estratégico da empresa para subsidiar o sucesso que a levou a maior empresa do mundo.
1. Experiência profunda
Na Apple, especialistas lideram especialistas. A gigante prefere treinar profissionais até o ponto da especialidade a treinar gerentes, normalmente com conhecimentos genéricos, para se tornarem especialistas em um tema.
Uma passagem que destaca este modelo é trazida pelo comando do setor de câmeras, atualmente nas mãos de Graham Townsend. Se a Apple fosse organizada de outra forma, a experiência desses especialistas seria diluída entre várias competências, atrasando e, por vezes, mitigando a capacidade da companhia de resolver problemas e de inovar.
2. Imersão nos detalhes
Na Apple, os líderes precisam dominar cada um dos detalhes do processo em que estão imersos em uma escala de até três níveis abaixo de onde se encontram na cadeia de produção para tomarem decisões rápidas e efetivas.
3. Disposição para debater de forma colaborativa
Uma operação que combina diversas cria os produtos Apple. As decisões são tomadas através de debates, e líderes de alto nível colaboram em eventuais impasses. Um fino equilíbrio entre participação do alto comando e grande poder de decisão dos especialistas é apontado como um dos diferenciais do sucesso da empresa.
O desenvolvimento do modo retrato do iPhone mostrou como a atenção aos detalhes e os debates colaborativos supramencionados são cruciais para os resultados aferidos.
No ano de 2009, uma equipe da Apple enfrentou desafios técnicos no iPhone. Debates sobre padrões de qualidade envolveram líderes de design e marketing e a necessidade de uma prévia ao vivo foi resolvida com a colaboração multidisciplinar, proposto por Hubel.
O modo retrato, então lançado pela empresa, foi um ponto-chave para o sucesso do iPhone 7 Plus.
4. Liderança em grande escala
A organização adotada pela Apple trouxe inovação e sucesso, mas enfrentou desafios com o crescimento. A evolução da empresa recorreu a ajustes feitos por Tim Cook, como a divisão de funções, adição de inteligência artificial e fusão de determinadas áreas.
O crescimento da Apple obriga líderes da empresa, a exemplo de Rosner a focar, de forma ainda mais intensa e consistente em pontos onde a atenção aos detalhes é vital para a manutenção e ampliação da performance alcançada.
Em complemento, como de se esperar, atividades menos críticas são delegadas.
Um cenário que elucida a passagem é o que aponta Rosner, especialista em aplicativos, agora, como orientador e provedor de feedback, em vez de ser uma pessoa diretamente envolvida em todas as tarefas.
Com a constante evolução, Rosner ainda aprendeu novas habilidades além de sua especialidade original por seis anos e, assim, separa críticas e de aprendizado, sem se afastar de uma mentalidade de iniciante ao aprender.
Atualmente, seu tempo é dividido dentro do seguinte esquema:
- 40% do tempo em atividades próprias
- 30% aprendendo
- 15% ensinando
- 15% delegando.
Esse modelo de liderança preserva a eficácia da organização funcional da Apple para uma inovação contínua.
Conclui-se que empresas, em via de regra, preferem gerentes gerais nas unidades de negócios, possivelmente, em função da dificuldade de adaptação ao modelo imputado por Jobs na Apple. Tal modelo exige a superação da inércia, realocação de poder, ajuste de incentivos, entre outros pontos de difícil gestão.
No entanto, a trajetória e história apresentadas pela Apple ao longo do tempo provam que, embora arriscada, a mudança para especialistas líderes em uma organização funcional pode gerar resultados extraordinários.
Leia texto original “How Apple is Organized for Innovation by Joel M. Podolny and Morten T. Hansen” clicando aqui.
Joel M. Podolny
Renomado sociólogo estadunidense, Joel Marc Podolny foi nome importante na escola de gestão da Yale e atualmente é executivo da Apple, ocupando o cargo de vice-presidente.
Morten T. Hansen
Autor dos livros Great at Work e Collaboration, nomeado um dos melhores pensadores em gestão pela Thinkers50 no ano de 2019, Morten T. Hansen é professor na Universidade da Califórnia e membro facultativo da Apple University.