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Como gerir investimentos sem vieses comportamentais

Nas últimas décadas, o campo dos investimentos tem se deparado com uma barreira invisível, mas potente: os vieses comportamentais. Os diretores executivos da Morgan Stanley, Aaron Dunn (gestor de portfólio na Eaton Vance Value) e Christopher Dyer (co-líder da Eaton Vance Equity e também da equipe global de ações da Eaton Vance), exploram como essas armadilhas mentais podem ser superadas através de estratégias meticulosas.

Pontos-chave (Key Insights):

  • O Perigo da Confiança Exagerada: A confiança é uma característica desejável em qualquer gestor de investimentos. Contudo, o excesso de confiança pode ser fatal.
  • A Dificuldade em Aceitar Perdas: As perdas são duas vezes mais impactantes que os ganhos em termos psicológicos. Esse viés leva muitos investidores a segurar ações em queda, na esperança de uma recuperação que talvez nunca aconteça.
  • Ancoragem em Informações Irrelevantes: Um dos vieses mais sutis é a ancoragem, onde investidores se fixam em informações irrelevantes ao tomar decisões.

O problema do instinto nos investimentos

Os vieses comportamentais são tendências humanas que podem afetar profundamente a tomada de decisões, especialmente no mundo dos investimentos. Daniel Kahneman, um dos pioneiros no estudo desses vieses, ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2002 por suas contribuições à economia comportamental, apesar de ser psicólogo, não economista. Suas pesquisas mostram que os vieses comportamentais influenciam decisões em diversas áreas, desde julgamentos judiciais até diagnósticos médicos, e são igualmente prejudiciais no campo dos investimentos.

Aaron Dunn e Christopher Dyer, diretores executivos da Morgan Stanley com uma forte ligação ao Eaton Vance Equity Group (comprado em 2021 por aquele gigante global de serviços financeiros), reconhecem que os vieses comportamentais são inevitáveis, mas acreditam que podem ser mitigados com estratégias específicas. “Entender que temos esses vieses é o primeiro passo, mas o que podemos fazer para superá-los de forma proativa?” questionam eles. Para isso, o grupo desenvolveu exercícios de portfólio proprietários, que têm sido fundamentais no sucesso de suas estratégias de investimento.

O Impacto dos Vieses Comportamentais

Os vieses comportamentais podem ser agrupados em várias categorias, cada uma com suas armadilhas específicas para investidores. O viés de excesso de confiança é um dos mais comuns. Como mencionam Dunn e Dyer, “enquanto queremos confiança em nossos profissionais, descobrimos que o excesso de confiança tende a ser uma fraqueza.” Esse viés leva gestores de investimentos a superestimarem suas habilidades, o que pode resultar em escolhas precipitadas e perdas significativas. Um estudo revelou que 74% dos gestores de fundos acreditavam ser “acima da média” em suas habilidades de investimento, o que, estatisticamente, é impossível.

Outro viés crucial é a aversão à perda, onde a dor de perder é psicologicamente duas vezes mais intensa do que o prazer de ganhar. Kahneman demonstrou que essa aversão pode levar investidores a manterem ativos em queda, na esperança de recuperação, mesmo quando todas as evidências apontam para o contrário. Como Dunn e Dyer ressaltam: “O desafio não é apenas reconhecer as perdas, mas saber a hora certa de cortar suas perdas e seguir em frente.”

O viés de recência também é frequente, levando os investidores a darem peso desproporcional aos eventos mais recentes em detrimento de uma visão de longo prazo. Isso pode resultar em decisões impulsivas, como comprar na alta do mercado ou vender na baixa, contrariando a lógica de investir com uma perspectiva de longo prazo.

Estratégias para Superar os Vieses

Para combater esses e outros vieses, o Eaton Vance Equity Group implementou uma série de exercícios de portfólio que são agora parte integrante de seu processo de investimento. Um exemplo é o exercício chamado “Dois Erros que Cometi no Ano Passado”, onde os gestores de portfólio refletem sobre seus erros passados para aprender com eles e evitar repeti-los no futuro. “Confiança é bom, arrogância é fatal”, afirmam os executivos neste artigo, sublinhando a importância de reconhecer as próprias falhas.

Outro exercício é o “Um para Cima, Um para Fora”, que incentiva os membros da equipe a identificar uma ação no portfólio que eles aumentariam a posição e outra que liquidariam completamente. Este exercício ajuda a lidar com a aversão à perda, forçando os gestores a venderem ativos que podem estar apresentando perdas, ao mesmo tempo em que promove a responsabilidade e o pensamento crítico.

Dunn e Dyer enfatizam a necessidade de diversidade cognitiva dentro das equipes de investimento para evitar o pensamento de grupo, ou “groupthink“. Eles argumentam que, para tomar decisões eficazes, é crucial ter uma equipe composta por indivíduos com diferentes habilidades e origens, o que promove debates saudáveis e previne a conformidade. “O debate e o desacordo são marcas de grupos de trabalho eficazes”, sublinham.

Os vieses comportamentais são desafios inevitáveis no mundo dos investimentos, mas com estratégias e práticas adequadas, como os exercícios de portfólio proprietários do Eaton Vance Equity Group, é possível mitigar seus efeitos. Como concluem Dunn e Dyer, “acreditamos que esses exercícios de portfólio são diferenciais importantes que nos destacam de outros gestores de investimentos na indústria.”

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