Nos últimos anos, os critérios de ESG (Ambiental, Social e Governança) tornaram-se peças-chave nas estratégias de investimento, especialmente entre os grandes investidores do mercado.
Um estudo recente conduzido pela Stanford Graduate School of Business em parceria com o MSCI Sustainability Institute investigou como grandes investidores institucionais abordam os critérios de ESG em suas estratégias de investimentos e tomada de decisão, principalmente para mitigar riscos.
Pontos-chave (Key Insights):
- ESG como ferramenta de redução de riscos e volatilidade: Como os maiores investidores institucionais do mundo veem o ESG mais como uma estratégia para mitigar riscos do que para gerar altos retornos financeiros, além de reduzir a volatilidade.
- Foco no E (Ambiental) e G (Governança): Para os investidores institucionais, o fator governança ganha maior foco para garantir que as empresas operem com transparência e responsabilidade. Em seguida, vem o fator ambiental, que se torna cada vez mais relevante em um cenário de mudanças climáticas.
- Menor ênfase no S (Social): Os investidores institucionais ainda sentem dificuldade em medir o impacto das questões sociais em suas estratégias de investimentos, recebendo menos atenção.
O que é ESG e qual sua importância
ESG é a sigla para Environmental, Social e Governance, que em português significa Ambiental, Social e Governança.
O termo é usado para definir um conjunto de critérios utilizados para avaliar o desempenho de uma empresa em relação à forma como ela lida com questões ambientais, sociais e de governança corporativa.
Na prática, acredita-se que as empresas com boas práticas de ESG estão mais bem preparadas para enfrentar desafios que podem afetar seus negócios a longo prazo, como desastres ambientais, questões regulatórias e problemas relacionados à má governança.
O impacto do ESG nos investimentos
De acordo com o estudo intitulado “2024 Institutional Investor Survey on Sustainability”, conduzido pela Stanford Graduate School of Business em parceria com o MSCI Sustainability Institute, a maioria dos investidores institucionais adotam o ESG principalmente para reduzir riscos de cauda nos investimentos.
Os riscos de cauda são aqueles relacionados a eventos improváveis e inesperados, que geralmente têm um impacto muito significativo nos negócios e na economia como um todo. Alguns exemplos são os desastres naturais, as guerras e até mesmo a pandemia do COVID-19.
O estudo, conduzido em setembro de 2023 por três pesquisadores, entrevistou 47 grandes investidores institucionais, incluindo gestores de ativos, fundos de pensão e seguradoras, que juntos administram trilhões de dólares em ativos.
Os resultados apontam que as empresas que adotam práticas ESG são vistas como menos prováveis a enfrentar problemas reputacionais, regulatórios ou litígios que possam impactar no valor dos ativos, o que faz com que os investidores institucionais adotem o ESG como uma maneira de evitar ou reduzir riscos financeiros nos seus investimentos.
Maior foco nos fatores governança e ambiental
Os resultados revelaram uma ênfase clara nos fatores de governança e ambiental.
- Os fatores relacionados à governança são os mais considerados, já que os investidores acreditam que uma boa governança corporativa seja a base para uma empresa se tornar bem-sucedida e sustentável no longo prazo. Da mesma maneira, uma má governança é considerado um sinal de alerta pelos gestores de fundos e pode ser suficiente para excluir uma empresa de sua carteira de investimentos.
- Já os fatores relacionados à questão ambiental têm se tornado cada vez mais relevantes para os investidores institucionais atentos aos efeitos das mudanças climáticas nos negócios. Por isso, não surpreende que as mudanças climáticas e a emissão de carbono sejam os fatores de ESG mais considerados de acordo com a pesquisa. Enquanto as empresas que adotam políticas ambientais robustas podem se beneficiar de um custo de capital reduzido e acesso a novos mercados, as empresas que ignoram a responsabilidade ambiental têm mais chances de enfrentar riscos legais, regulatórios e de reputação.
Menor ênfase no social
Embora o fator menos considerado do ESG seja o social, isso não significa que ele seja irrelevante para os investidores.
Segundo o estudo, a maioria dos investidores institucionais reconhece que aspectos como segurança e privacidade de dados são essenciais para a sustentabilidade dos negócios. Negligenciar esse aspecto pode levar a perdas significativas a longo prazo .
No entanto, o desafio está na medição e implementação das métricas sociais para avaliar seu impacto nas estratégias de investimento, o que acaba afastando o olhar dos investidores para o fator social.
De acordo com Seru, professor de finanças, co-diretor da Corporate Governance Research Initiative e membro sênior da Hoover Institution, uma lista mais curta de prioridades de ESG já é um reflexo de como os investidores institucionais enxergam o ESG para mitigar riscos nos investimentos.
Segundo o professor, “o ESG provavelmente será bem diferente daqui pra frente do que foi no passado, com os investidores se concentrando em um ou dois principais impulsionadores de risco que têm o potencial de realmente impulsionar o preço das ações e influenciar os resultados”.
Risco relativo nos investimentos
O estudo também aponta que os riscos relacionados ao ESG não são refletidos de maneira uniforme nos preços dos ativos. Enquanto alguns riscos relacionados à governança já são considerados na avaliação de preço dos ativos, menos da metade dos entrevistados acredita que os riscos sociais estejam adequadamente precificados, talvez porque seja mais difícil medir e analisar quantitativamente.
Os investidores institucionais também responderam que preferem avaliar a performance ESG de uma empresa em comparação com os seus concorrentes diretos, em vez de usar critérios absolutos.
Isso porque adotar critérios relativos permite que os investidores institucionais filtrem somente as piores empresas de cada setor, sem excluir segmentos inteiros do mercado, facilitando a gestão dos ativos e mantendo uma abordagem mais inclusiva para os gestores de fundos.
ESG como estratégia de valor
Além de utilizar o ESG para reduzir riscos, o estudo também destaca que o ESG pode ser uma estratégia para criar valor a longo prazo para as empresas.
Ao implementar estratégias mais sustentáveis para seus negócios e demonstrar um compromisso contínuo com as práticas ESG, as empresas conseguem atrair consumidores e investidores mais conscientes. Além disso, acredita-se que essas empresas estarão mais preparadas para futuras regulamentações que favoreçam práticas sustentáveis.
ESG como base para investimentos seguros e sustentáveis
Neste estudo, fica claro que os critérios de ESG permanecem com grande importância para fazer escolhas seguras de investimentos, especialmente com a crescente demanda por práticas mais transparentes e sustentáveis para as empresas.
Para os investidores institucionais, o ESG ajuda não apenas a proteger seus ativos, mas também para se posicionar estrategicamente em um mercado cada vez mais preocupado com as questões ambientais e de responsabilidade corporativa.
Por outro lado, questões sociais como diversidade no ambiente de trabalho, direitos trabalhistas e responsabilidade social devem ganhar maior relevância nos próximos anos, à medida que novas ferramentas de medição e a maior conscientização sobre essas questões se tornem mais difundidas.
Para ler o artigo original, clique aqui.