Este artigo, publicado pela Stanford Graduate School of Business e escrito por Alexander Gelfand, apresenta os resultados de uma pesquisa realizada por David Larcker, Amit Seru e Brian Tayan ao longo de três anos sobre a percepção de investidores de varejo americanos em relação ao tema ESG nos investimentos. A pesquisa mais recente, realizada em 2024, revelou um declínio acentuado no apoio dos jovens investidores às práticas de ESG, sugerindo uma mudança estrutural na relação entre valores sociais e decisões financeiras. A análise reflete as incertezas econômicas e o ceticismo crescente quanto à eficácia e ao custo dessas iniciativas.
Pontos-chave (Key Insights):
- O apoio dos jovens ao ESG caiu drasticamente entre 2022 e 2024, principalmente por preocupações econômicas.
- A percepção de que o ESG é um “luxo” em tempos difíceis tornou-se dominante entre todas as gerações.
- O futuro do ESG pode depender mais de ações governamentais do que do setor privado.
O declínio acentuado do apoio jovem ao ESG
O estudo conduzido entre 2022 e 2024 expôs uma mudança drástica de comportamento entre jovens investidores. Em 2022, 44% dos Millennials e membros da Geração Z consideravam “extremamente importante” que empresas de investimento usassem seu poder para influenciar prioridades ambientais. Em 2023, esse número caiu para 27%, tendo despencado para apenas 11%, em 2024. As atitudes em relação às questões sociais e de governança seguiram a mesma tendência de queda.
Essa tendência de desinteresse também se refletiu no comportamento em relação ao sacrifício financeiro. Em 2022, apenas 9% dos Millennials e Gen Z declaravam não estar dispostos a perder qualquer valor da sua aposentadoria para apoiar metas de emissões líquidas zero, esse percentual triplicou em 2024. Na Gen X, os dados indicaram a mesma tendência, mas no caso dos Boomers+, apesar do percentual em 2024 ter sido menor do que em 2022, ainda se manteve em patamares bem elevados (53%) — mostrando uma consistência na relutância em comprometer ganhos pessoais por causas ESG.
Outro dado marcante é que essa mudança não foi exclusiva de grupos políticos específicos. Embora democratas historicamente demonstrem maior afinidade com ESG, apenas 10% deles mantinham essa disposição em 2024 — metade do registrado no ano anterior.
Fatores econômicos, colapso da confiança e convergência geracional
Os pesquisadores atribuem grande parte dessa reviravolta ao novo contexto macroeconômico: inflação alta, aumento das taxas de juros, aperto no mercado de trabalho e fim dos estímulos da era pandêmica. Quando o estudo começou, em 2022, o ambiente era de otimismo — e os jovens estavam mais confiantes tanto na economia quanto em seu conhecimento sobre o mercado financeiro. Em 2022, 78% dos jovens investidores se consideravam muito ou extremamente bem informados sobre o mercado de ações. Em 2024, apenas 18% ainda pensavam assim.
Essa queda na confiança acompanha uma redução no otimismo geral. Pela primeira vez, os jovens passaram a se alinhar aos investidores mais velhos, que tradicionalmente priorizam retorno financeiro sobre causas sociais ou ambientais. A convergência etária mostra que as gerações mais novas podem estar deixando de lado seus ideais diante da realidade financeira, reforçando a ideia de que ESG é um valor secundário em momentos de aperto.
Além disso, a percepção de eficácia do ESG começou a ser questionada. Muitos investidores parecem não acreditar mais que esforços corporativos sejam capazes de gerar mudanças sociais relevantes — ou, pelo menos, não de forma eficiente. Essa frustração com os resultados também ajuda a explicar o ceticismo crescente e o distanciamento da estratégia.
O futuro do ESG — entre desconfiança privada e expectativa por ação governamental
Com o recuo dos investidores individuais, cresce a percepção entre especialistas de que a liderança na agenda ESG deverá vir do setor público. Amit Seru sugere que políticas públicas como incentivos fiscais e subsídios podem ser mais eficazes do que esperar que o mercado resolva sozinho questões complexas como mudança climática, desigualdade salarial ou benefícios trabalhistas. Ele cita o exemplo da Califórnia, onde incentivos governamentais impulsionaram a adoção de veículos elétricos.
O estudo também ressalta a volatilidade das preferências dos investidores, o que dificulta a tomada de decisão para gestores de fundos e conselhos administrativos. Ainda assim, os autores não acreditam que o ESG esteja com os dias contados. Para Larcker, questões ambientais continuarão relevantes por serem cada vez mais tangíveis e mensuráveis. O problema está na governança e no social — categorias menos concretas, mais politizadas e de difícil medição de impacto.
Os pesquisadores expressam interesse em continuar acompanhando os dados, especialmente cruzando respostas de pesquisas com o comportamento real dos investidores — ou seja, o que eles realmente compram e vendem, independentemente do que dizem apoiar.
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