Porque a IA vai salvar o mundo?
Marc Andreessen, nascido em Cedar Falls em 9 de julho de 1971, é renomado como co-fundador da Andreessen Horowitz, destacando-se como um dos principais fundos de venture capital nos Estados Unidos. Anteriormente, desempenhou o cargo de Chairman na Opsware, uma empresa de software que foi adquirida pela HP em 2007 por impressionantes $1,7 bilhões. Sua notoriedade reside também na co-fundação da Netscape Communications Corporation e na co-autoria do Mosaic, pioneiro navegador gráfico da World Wide Web.
No Artigo “Porque a IA vai salvar o mundo?”, Mark Andreessen destaca a Inteligência Artificial (IA) como não apenas uma inovação, mas uma obrigação moral que pode aprimorar significativamente a inteligência humana. Rejeitando noções apocalípticas, ele enfatiza a natureza controlável da IA e sua capacidade de elevar a produtividade, impulsionar descobertas científicas e até melhorar operações em conflitos. Andreessen aborda preocupações comuns sobre alinhamento de valores, desigualdade e desemprego, advogando por regulamentações éticas. Destaca a importância de liderança no cenário global, particularmente em relação à China, e encoraja à rápida autorização de projetos de IA. Ele conclui que, ao adotar uma abordagem equilibrada, a IA tem o potencial de transformar positivamente o mundo, desde que regulamentada e implementada responsavelmente.
“O desenvolvimento e a proliferação da IA – mais do que um risco que devemos temer – é uma obrigação moral que temos para nós mesmos, para as nossas crianças, para o nosso futuro”, defende Mark Andreessen neste artigo sobre as vantagens da Inteligência Artificial (IA) e as enormes possibilidades que nos abre. Uma por uma, o autor procura desmontar as teses daqueles que vêm uma ameaça imparável e global na mais importante ferramenta construída pelas nossas sociedades, “a par com a electricidade e os microships”.
Em termos simples, a IA envolve a aplicação de matemática e código de software para ensinar computadores a entender, sintetizar e gerar conhecimento, de maneira semelhante à forma como os seres humanos o fazem, refere. Nesse sentido, trata-se apenas de um programa de computador que pode receber entradas, processá-las e gerar saídas. Então porque ouvimos que pode “matar-nos, arruinar as nossas sociedades, ficar com nossos empregos, causar uma terrível desigualdade e permitir a gente má fazer coisas terríveis”? Como é que estamos a transformar uma utopia numa distopia?
Andreessen lembra que não estamos a falar de uma ameaça autônoma, de um software assassino ou robôs que ganharão vida e decidirão destruir a raça humana, como tantas vezes vemos em filmes de ficção científica. E que, historicamente, todas as mudanças tecnológicas, incluído os automóveis, o rádio ou a internet, desencadearam uma contaminação social que convence as pessoas de que a nova tecnologia vai destruir o mundo ou a sociedade. “Mas o pânico moral é, pela sua natureza, irracional – pega numa preocupação legítima e aumenta-a a um nível de histeria que, ironicamente, torna mais difícil enfrentar o verdadeiro problema”, lembra.
Uma das conclusões mais sólidas e amplamente aceitas nas ciências sociais, respaldada por décadas de pesquisas e milhares de estudos, é que a inteligência humana tem um impacto significativo em diversos aspectos da vida. A inteligência humana é a alavanca que temos usado por milênios para criar o mundo em que vivemos hoje. Desde ciência e tecnologia até matemática, física, química, medicina, energia, construção, transporte, comunicação, arte, música, cultura, filosofia, ética e moral, a aplicação da inteligência humana em todos esses domínios nos permitiu elevar nosso padrão de vida “em cerca de 10.000 vezes nos últimos 4.000 anos”.
Um tutor de inteligência artificial para cada pessoa
Mark Andreessen defende que a Inteligência Artificial permitirá aprimorar de forma significativa inteligência humana, permitindo que, em pouco tempo, cada pessoa tenha um tutor de IA infinitamente paciente, compassivo e experiente; cada cientista beneficie de um parceiro virtual que expande consideravelmente seu escopo de pesquisa; todos os líderes, sejam CEOs, governantes, presidentes de organizações sem fins lucrativos, treinadores esportivos ou professores, tenham acesso ao mesmo apoio de IA, numa espécie de democracia global proporcionada pelos avanços tecnológicos do século XXI.
Mas vai mais longe, sugerindo que, com a Inteligência Artificial, “o crescimento da produtividade em toda a economia pode acelerar dramaticamente”, descobertas científicas, novas tecnologias e medicamentos “podem se expandir de maneira significativa”, e até mesmo a guerra, quando necessária, pode ser aprimorada pela IA, “reduzindo drasticamente as taxas de mortalidade em tempos de conflito”.
Utilizando o exemplo da proibição do álcool nos Estados Unidos, na década de 1920, o artigo sustenta que existem dois diferentes grupos que fomentam o pânico sobre a IA, os “Batistas”, reformadores sociais que defendem a existência de novas regulamentações e leis para evitar um desastre social, e os “Contrabandistas”, um grupo de oportunistas egoístas que têm interesse financeiro em impor essas novas restrições, regulamentações e leis que os isolem da concorrência.
Essa visão extremista da IA como uma ameaça existencial é parte do que pode ser descrito como um culto. Este culto não é novo e segue uma tradição ocidental de milenarismo, que gera cultos apocalípticos. O culto deste novo risco possui todas as características de um culto milenarista, como a busca por um evento transformador (a chegada da IA), a crença em mudanças dramáticas (utopia da IA, distopia da IA ou fim do mundo da IA) e a convicção de que um grupo dedicado enfrentará o evento e será recompensado.
Então, pergunta o autor, IA vai nos matar? A visão de que ela tomará essa decisão é um erro profundo, diz. Porque a Inteligência Artificial não é “um ser vivo, moldado por bilhões de anos de evolução para participar da luta pela sobrevivência, como os animais e os seres humanos”. Pelo contrário, é apenas pura matemática, código, computadores, criados e controlados por pessoas. “A ideia de que a IA desenvolverá uma mente própria e decidirá nos matar é uma superstição infundada”.
A segunda preocupação comum relacionada à IA, sustenta Andreessen, é que ela arruinará nossa sociedade, gerando saídas tão “prejudiciais”, como é frequentemente nomeado pelos pessimistas da IA, a ponto de causar danos profundos à humanidade, mesmo que não sejamos literalmente mortos.
A dica para entender essa preocupação está no próprio termo “alinhamento da IA”. Alinhamento com o quê? Valores humanos. “Mas, então, surge a questão complicada: quais valores humanos? A resposta a essa pergunta é fundamental para a IA, mas também é um desafio significativo”.
O exemplo das redes sociais
O autor destaca que já testemunhou uma situação análoga nas “guerras de confiança e segurança” das redes sociais. As plataformas de mídia social enfrentaram pressões maciças de governos e ativistas para banir, restringir, censurar e suprimir uma ampla gama de conteúdo ao longo dos anos. As mesmas preocupações com “discurso de ódio” (e seu equivalente matemático, “viés algorítmico”) e “desinformação” estão sendo transferidas diretamente do contexto das redes sociais para a nova fronteira do “alinhamento da IA”.
A partir das guerras de confiança e segurança nas redes sociais, o autor destaca duas lições importantes: não existe uma posição absoluta de liberdade de expressão. Todos os países, incluindo os Estados Unidos, consideram pelo menos algum conteúdo ilegal. Além disso, certos tipos de conteúdo, como pornografia infantil e incitação à violência no mundo real, são amplamente considerados fora dos limites por praticamente todas as sociedades. Portanto, qualquer plataforma tecnológica que facilite ou gera conteúdo – discurso – terá algumas restrições.
Se você não concorda com a moralidade dominante que está sendo imposta tanto nas redes sociais quanto na IA por meio de códigos de discurso cada vez mais intensos, também deve perceber que “a luta pelo que a IA é permitida a dizer/gerar será ainda mais importante do que a luta pela censura nas redes sociais. A IA provavelmente se tornará a camada de controle para tudo no mundo. Como ela é permitida a operar será crucial, talvez mais do que qualquer outra coisa”. Devemos estar cientes de como um pequeno e isolado grupo de engenheiros sociais estão tentando determinar essa regulamentação, sob o pretexto de proteger a sociedade.
Em resumo, não devemos permitir que a “polícia do pensamento” restrinja a IA.
O medo da perda de empregos devido à automação, mecanização ou IA tem sido uma preocupação recorrente ao longo da história, desde o surgimento do tear mecânico. Mesmo que todas as principais tecnologias tenham historicamente levado a mais empregos com salários mais altos, “cada onda de pânico sobre desemprego é acompanhada por alegações de que ‘desta vez é diferente’, que desta vez a tecnologia finalmente eliminará o trabalho humano”.
No entanto, isso nunca aconteceu. Passamos por dois ciclos de pânico relacionados ao desemprego causado pela tecnologia recentemente: o pânico da terceirização nos anos 2000 e o pânico da automação nos anos 2010. Apesar de muitos especialistas e executivos da indústria de tecnologia preverem massas de desempregados durante essas décadas, a realidade, até antes da pandemia de COVID-19 em 2019, era de mais empregos e salários mais altos do que nunca na história.
Essa ideia errônea persiste, no entanto, e continua voltando. Isso ocorre porque a intuição ingênua muitas vezes leva a uma falácia comum, conhecida como a “falácia da massa de trabalho fixa”. Quando a tecnologia é aplicada à produção, obtemos crescimento da produtividade – um aumento na produção gerado por uma redução nos insumos. Isso resulta em preços mais baixos para bens e serviços. “À medida que os preços caem, gastamos menos com eles, o que significa que agora temos mais poder de compra para comprar outras coisas. Isso aumenta a demanda na economia, impulsionando a criação de novas produções, incluindo novos produtos e novas indústrias, que, por sua vez, criam novos empregos”.
Novas indústrias, mais emprego
A IA tem o potencial de aumentar ainda mais a produtividade, o que pode levar a uma maior prosperidade e a uma transformação positiva da força de trabalho. Ela pode automatizar tarefas repetitivas e mundanas, permitindo que os trabalhadores se concentrem em atividades mais criativas e de alto valor. Além disso, a IA pode impulsionar novas indústrias e oportunidades de emprego, à medida que novos campos de aplicação são explorados.
Outra preocupação em relação à IA é que ela poderia acentuar ainda mais a desigualdade econômica. Essa preocupação é fundamentada no fato de que a tecnologia, quando mal distribuída ou mal gerenciada, pode levar a disparidades significativas na renda e na riqueza.
A automação de tarefas de baixo valor pela IA pode liberar tempo e recursos que podem ser redirecionados para áreas de maior valor, o que pode melhorar a eficiência e a produtividade. Finalmente, a regulamentação adequada da IA pode desempenhar um papel crucial na mitigação da desigualdade. Políticas que promovam a transparência, a responsabilidade e a equidade na adoção da IA podem ajudar a garantir que seus benefícios sejam distribuídos de forma mais justa.
Ao contrário do que acontece com os problemas relacionados com o emprego ou as alterações sociais, Andreessen tem uma posição mais defensiva no que diz respeito ao uso da IS para fins maliciosos. “Como qualquer tecnologia poderosa, a IA pode ser explorada por indivíduos ou grupos com más intenções”, recorda o autor. Exemplos dessas utilizações são a criação de deepfakes convincentes, vídeos e áudios manipulados que podem ser usados para espalhar desinformação e manipular a opinião pública.
Os ataques cibernéticos são outra preocupação, porque a Inteligência Artificial pode ser usada para os tornar mais sofisticados e silenciosos. Além disso, pode ser uma tremenda arma associada a drones, robôs e veículos autônomos para fins maliciosos, como ataques físicos, vigilância ilegal ou transporte de materiais perigosos. E ainda pode melhorar as ferramentas de espionagem e vigilância de governos e organizações criminosas.
Para mitigar esses riscos, é crucial implementar regulamentações e políticas adequadas que abordem o uso ético da IA. Isso inclui a criação de salvaguardas para proteger a privacidade das pessoas, promover a transparência no uso da IA e estabelecer penalidades para o uso indevido. A comunidade global de pesquisa em IA está trabalhando ativamente no desenvolvimento de tecnologias de detecção de deepfakes e métodos de autenticação digital mais seguros para combater a manipulação de mídia.
E a China? Quem segura o gigante asiático?
Mas o grande receio de Andreessen é o poderio chinês, e a forma como se está a posicionar nesta corrida: “A China tem uma visão para a IA completamente diferente da nossa – olham para ela como um mecanismo para o controle autoritário da população, ponto final”. É por isso que, em sua opinião, é necessário agregar todo o poder do setor privado, ciência e governos, para garantir aos Estados Unidos e ao Ocidente a liderança absoluta neste processo. Em suma, “we win, they loose” (Nós ganhamos, eles perdem). E com essa vitória, conclui, a IA salva o mundo.
Como plano operativo, o autor defende que as empresas (startups ou médias e grandes empresas) devem ser autorizadas a rapidamente desenvolver projetos de Inteligência Artificial. Os projetos de open source (código aberto) “devem ser autorizados a proliferar livremente e a competir quer com as startups quer com as grandes empresas”. Isto sem que sejam criadas barreiras regulatórias, de forma a que os progressos sejam aproveitados “por todos aqueles que possam deles beneficiar, quem quer que sejam e de quanto dinheiro têm”.
Para maximizar os benefícios e mitigar os riscos, é crucial estabelecer regulamentações e políticas adequadas que promovam o uso ético da tecnologia. Além disso, a pesquisa contínua em IA e a colaboração global são fundamentais para enfrentar os desafios em constante evolução que apresenta.
A IA tem o potencial de elevar a qualidade de vida, impulsionar a inovação e melhorar nossa compreensão do mundo. Ao adotarmos uma abordagem equilibrada e responsável em relação à IA, podemos colher os benefícios dessa tecnologia transformadora.
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