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Stan Druckenmiller: o investidor deve sempre olhar para o futuro

Um dos maiores nomes do mundo dos investimentos, Stan Druckenmiller, compartilhou sua visão sobre os desafios econômicos globais e estratégias de mercado em uma entrevista conduzida por Nicolai Tangen, CEO do Fundo Soberano da Noruega. “O maior erro que os investidores cometem é investir com base na situação presente”, defende o bilionário, conhecido pela sua ligação a Soros.

Pontos-chave (Key Insights):

  • Inflação e os desafios do Fed: O FED deveria priorizar evitar grandes erros históricos em vez de ajustes de curto prazo. E o déficit público americano é um problema estrutural iminente.
  • Estratégias ousadas com fundamentos sólidos: A aposta na desvalorização da libra esterlina e da coroa sueca demonstram como Druckenmiller utiliza análises econômicas rigorosas para capturar oportunidades.
  • Intuição, tecnologia e lições para novos investidores: Druckenmiller acredita na combinação de intuição humana e inteligência artificial como o futuro dos investimentos.

A inflação e os dilemas do FED

In Good Company é um podcast criado pelo Fundo Soberano da Noruega com a participação de alguns dos mais renomados investidores mundiais. Neste episódio, o convidado é Stan Druckenmiller, fundador da Duquesne Capital e quem geriu por mais de uma década o patrimônio de George Soros, investidor húngaro-americano (e que quebrou o Banco de Inglaterra, ao ganhar um bilhão num investimento contra a libra esterlina, em 1992).

A conversa aconteceu pouco antes das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Druckenmiller disse ter a convicção que a economia global ainda enfrenta incertezas significativas. Embora sem ver uma recessão iminente, ele alerta para os riscos inflacionários, principalmente diante de condições financeiras frouxas e decisões que podem reacender desequilíbrios. Na sua opinião, a vitória de Trump (que pouco depois viria a acontecer), vai “estimular o espírito animal na comunidade empresarial, que anseia por desregulamentação. Tarifas, por exemplo, podem aumentar a inflação marginalmente”, sublinha.

Mas é o FED o alvo da sua crítica mais acentudada. Druckenmiller entende que o governor do banco central dos Estados Unidos está obcecado com a ideia de um “soft landing”, mas deveria focar-se “em evitar grandes erros, como os da crise financeira de 2008 e da inflação recente”. Por outro lado, o déficit público americano, embora suportado pelo dólar como moeda de reserva mundial, é um problema estrutural que cedo ou tarde terá de ser enfrentado.

Conhecido por lucrar com os erros do Fed, o antigo presidente da Duquesne compartilhou sua atual posição no mercado: “estou vendendo títulos, mas não exageradamente. Curiosamente, acertei o momento certo e vendi exatamente no dia em que o Fed cortou as taxas”. Mas Druckenmiller promete estar atento à possibilidade de o rendimento dos títulos começar a subir até 6 a 7 por cento, como consequência de uma eventual nova subida da inflação.

Quanto ao mercado de ações, o entrevistado entende que a concentração em poucas empresas ainda é uma preocupação. No entanto, “o mercado financeiro está se ampliando, e embora isso ainda não seja ótimo, estamos vendo uma ‘luz amarela´, não uma ´luz vermelha´”, diz.

No setor de tecnologia, o otimismo com a inteligência artificial (IA) é evidente. Stan Druckenmiller acredita que a IA se tornou essencial para a sobrevivência das empresas, mas alerta que os preços de muitas ações no setor estão inflacionados. Ele citou sua entrada precoce no mercado, impulsionada por analistas de sua equipe que notaram uma mudança de talentos da Stanford e do MIT do setor cripto para IA. “Eles me recomendaram a Nvidia, e investi logo antes do lançamento do ChatGPT, com sorte no timing”, admitiu.

Outra aposta bem-sucedida veio do setor de saúde. Druckenmiller investiu cedo no mercado de medicamentos para perda de peso, percebendo o enorme potencial de um produto que prometia resultados sem esforço. “Nos Estados Unidos, se existe uma forma de perder peso sem trabalho, ela será adotada rapidamente”, explicou. A recorrência no uso desses medicamentos, comparável ao modelo de lâminas de barbear, mostrou-se lucrativa, com consumidores retornando regularmente ao produto para manter os resultados.

A aprendizagem com George Soros

A relação de Miller com George Soros foi um marco em sua carreira. Ele relembra o famoso episódio da libra esterlina, quando Soros propôs alavancar 200% do fundo para maximizar ganhos em uma aposta calculada contra a moeda britânica: “Soros é um pensador diferente. Ele me ensinou que, quando temos convicção em uma posição, devemos apostar grande”. Essa experiência moldou sua visão sobre a importância de dimensionar posições de acordo com o nível de convicção.

Outro episódio marcante foi sua aposta contra a coroa sueca. Naquele momento, Miller identificou uma divergência econômica que tornava a paridade cambial entre a coroa e outras moedas insustentável. Assim como no caso da libra esterlina, ele apostou na desvalorização da moeda sueca e obteve resultados expressivos. Esses casos são exemplos de como estratégias baseadas em fundamentos econômicos sólidos podem gerar retornos extraordinários.

Apesar de um histórico de decisões acertadas, Druckenmiller não esconde seus arrependimentos. Ele mencionou ter previsto corretamente a inflação em 2021, mas vendido sua posição cedo demais, perdendo a oportunidade de lucrar ainda mais. Mas o erro mais evitável está relacionado com a capacidade de análise a médio e a longo prazo: “acredito que o maior erro que os investidores cometem é investir com base na situação presente, em vez de tentar prever o futuro”, refere.

Um dos exemplos citados é o de uma empresa cíclica que está tendo resultados negativos. Se ninguém no setor “está aumentando a produção, é provável que a situação mude em 18 a 24 meses”. Esta capacidade de análise só se consegue com a experiência, e por isso o legendário investidor norte-americano recomenda aos jovens que procurem mais insistentemente um mentor do que um MBA.

Quando questionado sobre o papel da tecnologia no mercado financeiro, Druckenmiller é categórico: a combinação de máquinas e intuição humana é o caminho. Ele acredita que a inteligência artificial pode atuar como uma coadjuvante poderosa, mas ainda insuficiente para substituir a visão estratégica de um investidor experiente.

Para os jovens que desejam entrar no mercado financeiro, mais um conselho: paixão é essencial. “Se você está entrando só pelo dinheiro, deveria procurar outro setor. Este é um mercado dominado por pessoas que amam o que fazem”, alertou.

Druckenmiller, cuja rotina começa às 4h da manhã com uma análise dos mercados globais, acredita que o sucesso no mercado financeiro exige disciplina, resiliência e curiosidade intelectual. Sua experiência, revelada neste episódio do podcast In Good Company, é um lembrete poderoso de que, mesmo em tempos de incerteza, a combinação de intuição, técnica e aprendizado contínuo pode fazer toda a diferença.

Para escutar o episódio na íntegra, clique aqui.