Nos últimos 160 anos da história financeira dos Estados Unidos, as falências bancárias têm se mostrado presentes. No artigo “Why Do Banks Fail?”, Correia, Luck e Verner buscam desvendar as principais causas que contribuíram para as 5.000 falências analisadas e o que elas têm em comum.
Pontos-chave (Key Insights):
- Perdas de ativos e deterioração da solvência: Bancos enfrentavam perdas crescentes de ativos e queda na solvência antes de falir.
- Aumento no uso de financiamento caro e instável: Bancos que faliram dependiam cada vez mais de fontes de financiamento não essenciais e caras à medida que se aproximaram da falência.
- Padrão boom-bust no crescimento de ativos: Bancos seguiram um padrão de crescimento acelerado dos ativos seguido de uma contração abrupta nos últimos anos antes da falência.
As causas e as implicações nas políticas públicas
Sergio Correia (economista do Federal Reserve), Stephan Luck (consultor do Federal Reserve) e Emil Verner (professor do MIT) construíram uma base de dados com 37.000 bancos dos Estados Unidos (a amostra contempla todos os bancos nacionais de 1865 a 1941 e os bancos comerciais de 1959 a 2023). Mais de 13% declararam falência, tendo picos que caracterizaram as grandes crises financeiras, como a Grande Depressão (1929) e a Crise de 2008.
As corridas bancárias (“bank runs”) são a primeira causa identificada, caracterizadas pelas retiradas em massa de recursos pelos depositantes, que podem afetar não só bancos que já enfrentam dificuldades, mas também sistemas bancários saudáveis. A segunda causa consiste em enfraquecimento dos fundamentos financeiros, como perdas crescentes de ativos e deterioração da solvência.
Identificar a causa implica em diferentes formulações de políticas públicas no setor. No caso de falhas dos fundamentos financeiros, as medidas adotadas deveriam focar em garantir que os bancos estejam suficientemente capitalizados e que tenham práticas de gestão de risco e de empréstimos sólidas. Já no primeiro caso, a atenção se voltaria para ferramentas que evitem as corridas, garantindo que os depositantes tenham confiança nas instituições financeiras. Isso pode ser feito por meio de garantias governamentais, como o seguro de depósitos e o uso da autoridade do Banco Central para fornecer liquidez de emergência.
O que bancos que faliram têm em comum
Através de uma regressão, os autores puderam perceber certas tendências durante os 10 anos que precederam as falências de bancos entre 1959 e 2023 (período moderno). O coeficiente mostrou um aumento de inadimplência, através do NPL (Non-performing loans), que se traduziu em crescimento de provisões para perdas de empréstimos e, consequentemente, queda no lucro líquido, impactando o retorno sobre os ativos em 5% no ano anterior à falência. Para os casos dos bancos que faliram entre 1865 e 1934 (período histórico), também foi observada uma deterioração semelhante, com aumento gradual das inadimplências e queda na rentabilidade e capitalização. Além disso, as instituições enfrentaram grandes perdas de ativos, que, em média, representaram cerca de 49% do valor total dos ativos na amostra histórica.
A medida que os bancos se aproximaram da falência, houve uma tendência crescente de dependência de fontes de financiamento caras e mais arriscadas, como depósitos a prazo e financiamento de atacado. Esse padrão foi identificado tanto no período histórico, quanto no moderno.
Os bancos também experimentaram um padrão de crescimento acelerado entre os 10 e 3 anos anteriores, seguido por contração abrupta nos 2 anos seguintes. Essa expansão é mais representativa na amostra moderna (com expansão real atingindo, em média, 30%), mas o padrão foi observado em ambas as épocas. Esse crescimento é impulsionado principalmente pelo aumento no financiamento imobiliário e por uma expansão agressiva de empréstimos.
Esse comportamento segue um padrão de “boom-bust”, no qual o banco passa por uma expansão desenfreada de ativos antes de enfrentar uma contração repentina, geralmente devido a uma combinação de deterioração dos ativos e da falta de liquidez. Essa dinâmica costuma ser motivada pela busca de lucros rápidos, mas que, no final, compromete a estabilidade financeira do banco.
O estudo de Correia, Luck e Verner oferece uma análise abrangente sobre as causas das falências bancárias. Esses achados têm implicações significativas para a regulação bancária, sugerindo que uma maior vigilância sobre a saúde financeira das instituições e a implementação de medidas para limitar o risco sistêmico são essenciais para prevenir crises futuras.
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